
A vídeo performance “Pele" é fruto de um processo de criação coletivo iniciado em 2020, ano em que o planeta foi atravessado pela pandemia do coronavirus e pelas circunstâncias políticas e socias geradas por tempos de reclusão e confinamento, mortes, luto, perdas. A urgência da vida mostrou-se incontornável, afrontando, muitas vezes, as vicissitudes da realidade pandêmica. Como uma flor que nasce no asfalto, a esperança do verbo esperançar freireano, sempre atual, nos ensinou a importância de re-existir e buscar nas frestas desses tempos sombrios outras possibilidades para os encontros, para os afetos, para a criação. Surge dessa expectativa o Projeto Corpo Político, desenvolvido totalmente online por jovens artistas e estudantes de arte integrantes do Coletivo Identidade Visual (FFP/UERJ). O grupo possui como proposta a experimentação poética das linguagens contemporâneas da arte em um fazer colaborativo que incorpora o exercício de liberdade imprescindível às re-existências da arte. Em “Pele" o corpo é componente central na luta pela afirmação da vida. A pele, esse tecido poroso, revela e oculta o fluxo ininterrupto da existência nos limiares da vida interior e exterior, nas esferas do visível e do invisível, do material e do imaterial. Nesse movimento incessante o corpo é um lugar de convergências e disputas de complexas pulsões morais, biológicas, politicas. As lutas de classes, de gêneros e todas as batalhas sociais se desenvolvem neste âmbito. Na vídeo performance apresentada pelo coletivo, o corpo vasto quer projetar-se para além das suas fronteiras, “matar o medo, morrer, nascer de novo.”
PIRES, E. G. Cadernos de Artistas. In: Isabela Frade; Margarete S. Goes; Mirian Celeste Martins; Monica Mesquita; Rubens de Souza. (Org.). Utopia, distopia, heterotopia: paisagens culturais e políticas de formação. 1ed.Vitória: UFES, 2021, v. , p. 08-351.